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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Nordeste elegerá Dilma?

Eis artigo do jornalista Sérgio Malbergier, publicado na Folha de São Paulo desta quinta-feira. Com o título “Nordeste elegerá Dilma?”, ele analisa a força e influência da região na campanha pró-Dilma. Confira:
Hoje, aponta o Datafolha, o Nordeste é quem elege Dilma Rousseff presidente do Brasil. É onde a magia de Lula mais funciona. Filho pródigo dessa terra injusta, ele olhou para a região com os olhos inéditos de um retirante que se fez rei na metrópole e voltou para socorrer o seu povo. Messiânico, quase, como quer a tropicalizada mitologia lulista.
A política de fortalecer o salário mínimo, pilar do lulismo, com aumento real de 50% desde 2005, foi um soro na veia nordestina que agora rende frutos eleitorais formidáveis. Assim como os programas de transferência de renda. E os recordes de arrecadação e carga tributária, canalizados para a região.
Mas a renda do Nordeste ainda é a menor do país, e a taxa de analfabetismo funcional, a maior. Há progressos: a renda melhorou mais do que na média nacional. E heranças malditas: mais de 40% da população acima de 50 anos é analfabeta.
É possível enxergar justiça democrática no fato de o Nordeste, a região mais carente e abusada do Brasil, hoje decidir, no voto, o destino do país (ou melhor, a sucessão presidencial). E um “downside” horroroso: o eleitor menos escolarizado decide.
Os nordestinos, de qualquer forma (e cabe aqui um “disclaimer”: sou um deles), estão aproveitando cada momento. Começando pelo próprio Lula, que transbordava até o segundo turno alegria e humor típicos da região, e acabando em Tiririca, eleito justamente por São Paulo deputado federal mais votado do país.
Uma São Paulo que já sente a falta desses valentes trabalhadores. O fluxo migratório Nordeste-Sudeste caiu pela metade em relação ao pico dos anos 1990. Sobram vagas nos supermercados, na construção civil, nos domicílios. Vamos precisar de mais bolivianos.
Uma gaúcha de raízes búlgaras ou um paulista italiano, o(a) próximo(a) presidente do Brasil encontrará o Nordeste ainda muito fraco, mas ao menos com auto-estima suficiente para começar o tratamento. Tratá-lo bem renderá, como vemos, muitos frutos. 
* Sérgio Malbergier, jornalista da Folha de São Paulo.

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